sexta-feira, 20 de julho de 2012

A frieza de um corpo sem amor


Estava com uma caneca de chá de morango (seu chá favorito) bem quente entre suas pálidas mãos. Havia feito muito frio naquela semana. Estava em frente a janela pensando se estava mais frio do lado de fora da janela ou dentro de si mesma.
Olhou detalhadamente para suas mãos como nunca havia feito antes: quase tão brancas quanto a caneca que estava segurando. Sem nenhuma bolha, com as cutículas feitas apesar das unhas não pintadas, nenhum machucado muito grave. Haviam algumas cicatrizes mas eram tão finas que quase se misturavam com a textura natural da pele.
Como havia chegado naquele ponte? De onde tinha surgido toda aquela frieza para com ela mesma?
Lembrou de uma amiga que muitas semanas atrás tinha lhe contado que não via a hora de se apaixonar outra vez. Estava com a cabeça vazia demais. Queria alguém que pudesse habita-la. Tinha lhe contado que sua vida estava como um filme sem graça em preto e branco com a ausência de um amor.
Olhou novamente para as próprias mãos lembrando da resposta que dera para a amiga.
Seus dias estavam realmente em preto e branco mas, ao contrário do que lhe foi dito, adorava filmes antigos, sem diálogos.
Depois de tanto tempo sem amor próprio, tinha aprendido a conviver admiravelmente bem com aquele ambiente melancólico. Porém, concordava (em partes) com o que sua amiga tinha dito naquela semana: sentia falta de estar apaixonada. Sentia falta de estar apaixonada por cada mínimo detalhe se si. Detalhes como a textura fina de sua pele pálida, por exemplo.
Por que, se não ela que fosse amá-la, quem seria?

Um comentário:

  1. Se não estivermos aptos á nos amar, que nos amará ?.
    As vezes sinto um excesso de carência, beijos, colo, carinho. Logo passa.

    Faço companhia pra mim mesma.

    Adorei.

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