É engraçado observar as pessoas dentro do ônibus. No final do dia, gosto de imaginá-las como corpos desesperados para chegar em suas respectivas casas. O que acontece depois daquilo vira história.
Gosto de pensar também no que cada uma delas vez antes de estar ali, sentada ou em pé, se segurando na primeira barra de ferro a vista.
Uma criança, por exemplo, se estiver com a cara mais fechada, de duas uma: ou está triste por ter sido obrigada a mais um daqueles terríveis exames de sangue, ou quer apenas chegar logo em casa. Uma moça, que ao longo do caminho passa hora olhando pras próprias unhas, hora olhando a paisagem do lado de fora, de duas uma: ou está pensando em como anda desleixada, sem tempo nem para fazer as próprias unhas ou apenas quer chegar logo em casa.
O ponto é chegar logo em casa. Senão, não estariam todos ali.
É engraçado também observar uma mesma pessoa desde a hora em que ela passa pela catraca até a hora em que ela deixa o transporte público e ir imaginando todos os detalhes de sua vida. Coisas como passar o dia com o namorado, ser uma profissional muito ocupada e dona de 2 gatos, até a hora em que ela recebe uma ligação pelo celular e você fica sabendo que ela está solteira, não pretende arranjar uma namorado, ainda mora com mãe, sobrevivendo a base de bicos e que detesta qualquer tipo de animal de estimação.
É engraçado e eu gosto de perceber quantos acasos um só ambiente público pode ter. Ainda nutro a esperança de em um deles, encontrar você.